terça-feira, 22 de junho de 2010

Ahasverus e o Gênio

Ao poeta e amigo J. Felizardo Júnior


Sabes quem foi Ahasverus?... — o precito,
O mísero Judeu, que tinha escrito
Na fronte o selo atroz!
Eterno viajor de eterna senda...
Espantado a fugir de tenda em tenda,
Fugindo embalde à vingadora voz!

Misérrimo! Correu o mundo inteiro,
E no mundo tão grande... o forasteiro
Não teve onde... pousar.
Co'a mão vazia-viu a terra cheia.
O deserto negou-lhe — o grão de areia.
A gota d'água — rejeitou-lhe o mar.

D'Asia as florestas-lhe negaram sombra
A savana sem fim-negou-lhe alfombra.
O chão negou-lhe o pó!...
Tabas, serralhos, tendas e solares...
Ninguém lhe abriu a porta de seus lares
E o triste seguiu só.

Viu povos de mil climas, viu mil raças,
E não pôde entre tantas populaças
Beijar uma só mão...
Desde a virgem do Norte à de Sevilhas,
Desde a inglesa à crioula das Antilhas
Não teve um coração!...

E caminhou!... E as tribos se afastavam
E as mulheres tremendo murmuravam
Com respeito e pavor.
Ai! Fazia tremer do vale à serra...
Ele que só pedia sobre a terra
— Silêncio, paz e amor! —

No entanto à noite, se o Hebreu passava,
Um murmúrio de inveja se elevava,
Desde a flor da campina ao colibri.
"Ele não morre", a multidão dizia...
E o precito consigo respondia:
— "Ai! mas nunca vivi!" —

O Gênio é como Ahasverus... solitário
A marchar, a marchar no itinerário
Sem termo do existir.
Invejado! a invejar os invejosos.
Vendo a sombra dos álamos frondosos...
E sempre a caminhar... sempre a seguir...

Pede u'a mão de amigo-dão-lhe palmas:
Pede um beijo de amor— e as outras almas
Fogem pasmas de si.
E o mísero de glória em glória corre...
Mas quando a terra diz: — "Ele não morre"
Responde o desgraçado:-"Eu não vivi!..."

Castro Alves

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Eu só quero te encontrar...



Já faz um tempo que está vazio
Este lugar que já sentiu
Muito amor.
Eu quis muito, muito preencher,
Mas pude então perceber
A dor...


A dor de tentar e não conseguir
De procurar e ter que fugir
Da solidão.
Às vezes não sei o que fazer
E nem consigo com meus olhos prever
Meu coração...

Quando eu fitar o seu olhar
Saberei que não mais vou procurar
Em vão...
O teu sorriso será um farol
E seu amor – um sol –
Em minha escuridão.


Sua voz a embalar meus ouvidos
Seu abraço fará todo sentido...
...te amar...
Em teus olhos terei a certeza
De tudo aquilo que meu coração almeja
Eu só quero te encontrar...



                                                                                                        Salomão Lage
                                                                                                             8 de abril de 2010.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Crepúsculo Vespertino




“Era dos seres a harmonia imensa,
Vago concerto de saudade infinda!
‘Sol – não me deixes’, diz a vaga extensa,
‘Aura – não fugas’, diz a flor mais linda;
Era dos seres a harmonia imensa!”
Castro Alves


Ontem... a tardinha...
A natureza alegre vibrava,
O mar... calmo se movia,
O pôr-do-sol ao longe o fitava...

Tu que nas pedras, ali estavas,
Ostentava da paisagem o resplendor.
De toda criação que beleza esperas,
És tão somente a mais linda flor.

Os astros de sublimes plagas...
O vento que as palmeiras agita...
O verde que da a vida as matas...
O fulgor de preciosa pepita...

A ti foram feitos!
Astros, vento, e pedras preciosas...
De tudo quanto fora criado,
És a peça mais formosa!

Observando tal quadro celeste,
Quão grande era a harmonia;
De um lado a bela natureza,
Do outro a magnífica Maria.

Salomão Lage
Julho de 2003

A Quimera

A noite é um pálio estrelado,
Que Quimeras têm iluminado
Em sacra solidão
Vagando pela plaga sombria
Os sonhos que na mente se cria
“Distúrbios” do coração.

Mas então diga-me: - Que és
Se as nuvens estão sob seus pés
E a lua em suas mãos...?
Seja, talvez, aquela certeza,
A esperança do que tanto almeja
Uma brisa, uma pétala ao chão...

Seja a virgem em campos floridos,
Sentindo aromas e sabores sortidos
Sobre a relva a sorrir...
E as águas tranqüilas do riacho,
Toca continuamente seus cachos
A pura beleza está ali...

E as longas noites de insônia
Que a saudade se faz idônea
Pra comigo conversar.
Dela, falamos todo tempo,
Um assunto que me traz alento
Até o sono chegar.

Minha dor se desfaz
Em saber que um dia não mais
Iremos nos afastar.
Quando, radiante, chega o dia
Sinto a tão esperada alegria
De com ela me encontrar.


Salomão Lage
5 de dezembro de 2004

A um amigo



Que tens no peito estimado amigo
Que está acontecendo contigo
Que estás a se afastar?
No teu leito a dúvida não pára
Resposta alguma teu peito sara
Angústia no olhar

Vê... que a noite é pequena
Para teceres com a pena
O teu labutar
Teu intimo arde horrivelmente
Palavra que corta simplesmente
O teu respirar

Que milhões fossem pronunciadas
Ou aquelas que nem são faladas
Que um simples “não”.
- “Cupido! Por onde andavas
Quando de ti precisavas
Duma flecha então?

Pra conceder o alento
Para que nem mesmo o vento
Movesse então
A decisão da donzela
Que aos meus olhos tão bela
Curasse-me o coração...”



Salomão Lage
20 de outubro de 2005

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ao meu Amor






“Ó flor! – tu és a virgem das campinas!
Virgem! – tu és à flor da minha vida!...”
Castro Alves

Penso em ti com muita saudade
E uma vontade de estar contigo,
E desfrutar de toda liberdade
De sua companhia comigo.

Penso em teu sorriso
E a vontade de te abraçar...
Em tua voz docemente
Aos meus ouvidos embalar.

Quem me dera que eu pudesse
Nesta hora te encontrar,
Do meu amor lhe falaria
Fitando-lhe seu olhar:

“Sinto em meu peito
O tilintar de um coração
Que não espera outro jeito
Que o sair da solidão.
..............................................................
Pra lhe dar milhões de beijinhos
E lhe encher de carinhos
Muitos sem cessar.
Te mostrar que é bem forte,
Que nem mesmo a morte
Pode arrebatar!!!

Pois tu és a minha pepita,
Luz nítida que não crepita,
Dissipa minha ilusão...
Harmonia pura e perfeita
Pois, tu és minha eleita
Aqui em meu coração.

Quem me dera que eu pudesse
E aos teus ouvidos lhe dissesse
Sem pejo....
E minha mão lhe afagasse
A tua Angélica face
E selasse com o beijo."


Salomão Lage
12 de novembro de 2008

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O despertar do poeta II

                                                                                                                       


Numa manhã ensolarada de verão,
A brisa marítima a tocar-me a face, tão...
Ansiosa saudade...
Em minha mente uma vívida lembrança,
Em meu coração uma forte esperança
Livre de maldade.

Sentimento singelo, anelante em meu peito
O desejo de ter encontrado o jeito
De sair da solidão.
De repente uma nuvem muito densa,
Que escurece tudo aquilo que se pensa...
Envolve meu coração.

Tudo é turbado pela escuridão
E os sentidos se confundem então,
A loucura...
As palavras ficam sem sentido,
Os pensamentos ficam torcidos
E perdura...

Mas algo fascinante acontece
Quando uma luz aparece
Radiante.
Uma certeza inquebrável
Da sua voz inquestionável
E cintilante...

Toda treva se dissolve
E a nuvem que me envolve
Perece..
Voltando aquela lembrança...
E a mais forte esperança
Que cresce...

                                               Salomão Lage
                                                 18 de Janeiro de 2010